23 de abril de 2015

Vasco Bensaude do Mundo Empresarial à Paixão pelos Cães e pela Caça

Vasco Bensaude nasceu em Lisboa, no ano de 1896, filho de Pais Açorianos. Era descendente de uma família Judia que chegou aos Açores nos inícios do Século XIX e viria a falecer no Pico Salomão, em Ponta Delgada, em 1967. O Senhor Vasco Bensaude, como era conhecido nos Açores, foi o líder, durante algumas décadas, do mais importante Grupo Económico dos Açores e com posições muito relevantes em setores de atividade no plano nacional, como aconteceu na pesca do bacalhau e mesmo nos transportes marítimos. A presença da Casa Bensaude, no século passado e na economia açoriana, está fortemente ligada ao nome e à gestão do Senhor Vasco Bensaude. O comércio, os serviços de navegação marítima, a pesca do bacalhau, os transportes aéreos (SATA), a Companhia de Seguros Açoriana, o Banco Micaelense, a Fábrica de Tabaco Micaelense, a Fábrica do Açúcar e a Fábrica do Álcool tiveram todas a mão do Senhor Vasco Bensaude. Mas foi no turismo que o Senhor Vasco Bensaude deixou uma marca verdadeiramente histórica ao associar-se, nos anos 30 do século XX, a outros açorianos na criação da Sociedade Terra Nostra e que esteve na origem da construção, precisamente há 80 anos, do Hotel Terra Nostra das Furnas, na Ilha de São Miguel, e que é, indiscutivelmente, um dos melhores hotéis de Portugal, a que o Senhor Vasco Bensaude anexou, por compra, o famoso parque Terra Nostra das Furnas, com a sua piscina de águas quentes e árvores de grande porte vindas de todos os Continentes. O Parque Jardim Terra Nostra é hoje considerado pelos especialistas um dos 250 Jardins mais Belos do Mundo. O senhor Vasco Bensaude era um empresário bem conhecido no País, mas também no estrangeiro, designadamente em Inglaterra, onde estudou em jovem, e nos Estados Unidos da América. Também é conhecido o interesse do Senhor Vasco Bensaude pela arte, cultura e desenvolvimento social, sendo inúmeros os exemplos, o que é menos conhecido, ou mesmo desconhecido, é o seu interesse pelo mundo dos cães e pela cinegética.
Começando pelos cães, Portugal e a canicultura ficaram a dever ao Senhor Vasco Bensaude todo o seu empenhamento e reconhecimento da raça portuguesa dos Cães de Água. Como me confidenciou recentemente a D.ª Patricia Bensaude Fernandes, filha do Senhor Vasco Bensaude, foi o seu grande amigo, como ela diz “o melhor amigo do meu Pai”, o Senhor Renato Pinto Soares que o despertou para os cães e a caça. Vasco Bensaude, com a perseverança que lhe era conhecida, levou nos anos 30 os cães de água dos barcos de pesca e das traineiras para os ringues das exposições e para as primeiras classificações, tendo-se tornado mesmo como criador da raça, a par de outras como a dos Clumber Spaniel que utilizava na caça às Galinholas. A este propósito, são hoje conhecidas histórias fantásticas do relacionamento do Senhor Vasco Bensaude com os seus cães e em especial com o LEÂO. Mas a sua passagem pelo mundo dos cães não se ficou apenas por aquela raça, já que se juntou à equipe que realizou em 1931 a 2ª exposição internacional de canicultura em Lisboa, que estaria na base da Secção de Canicultura do Clube de Caçadores Portugueses (origem do Clube Português de Canicultura), sempre na companhia do seu amigo Renato Pinto Soares e grande entusiasta e fundador daquela Secção. Esta iniciativa viria posteriormente a revelar-se um valioso contributo para o apuramento e registo de algumas raças Portuguesas, como a do nosso magnifico Perdigueiro Português / Nacional.
No mundo da caça, permito-me destacar o contributo e sugestões do Senhor Vasco Bensaude nos anos 30 e seguintes do século passado que, se seguidas pelos poderes públicos e caçadores,   poderíamos ter hoje um setor da caça sustentável, moderno e amigo da natureza. A este propósito refiro a carta que dirigiu à “Comissão Venatória Districtal” da Ilha de São Miguel e publicada no dia 1 de Dezembro de 1936, no Jornal Mensário Caça, nº 7, e que era distribuído juntamente com o Açoriano Oriental (pode ser consultado na Biblioteca Púbica e Arquivo Regional de Ponta Delgada). Neste documento extraordinário e fruto da sua experiência internacional, para além das propostas que faz para garantir a perenidade das espécies cinegéticas autóctones, com especial ênfase para as Galinholas, cuja evolução demográfica o preocupava muito, ele sugere que devia ser estudada a introdução de novas espécies venatórias, como a perdiz vermelha, a perdiz cinzenta, a codorniz da Califórnia e o pombo de São Tomé. Nesta mesma carta disponibiliza terrenos e meios para serem efetuados estes ensaios. Refere que os terrenos em questão têm muita comida para as aves, água com fartura, e estão protegidos dos ventos dominantes, exigindo apenas que estes terrenos deveriam ficar salvaguardados da prática cinegética para não se comprometer esta experiência que seria depois utilizada para o repovoamento.
Aqui fica a minha Homenagem a um visionário e companheiro de Santo Huberto.

Gualter Furtado
Abril de 2015

Foto: Vasco Bensaude ao centro, nos anos 30, do séc. XX, na Ilha de São Jorge

Sobre o blogue

Contacto: ribeira-seca@sapo.pt
número de visitas

1 - Pertence-me e não possui fins comerciais;

2 - Transmite a minha opinião;

3 - Os trabalhos publicados são da minha autoria;

4 - Poderei publicar textos de outros autores, mas se o fizer é com autorização;

5 - Desde que se enquadrem também reproduzirei artigos de imprensa;

6 - Pela Caça e Verdadeiros Caçadores;

7 - Em caso de dúvidas ou questões, poderão contactar-me através do e-mail acima;

8 - Detectada alguma imprecisão, agradeço que ma assinalem;

9 - Não é permitido o uso do conteúdo deste espaço sem autorização;

10 - Existe desde o dia 21 de Outubro de 2006.

© Pedro Miguel Silveira

Arquivo