28 de julho de 2012

Em jeito de reflexão

Aquilo que vou postar não é para os detractores da tauromaquia, e sim para nós outros, os aficcionados ou aqueles que sem o serem estejam todavia na fronteira da tolerância e do respeito! 
É uma reflexão que só pode interessar a quem reflicta, a quem pense, não a energúmenos eivados de todas as raivas contra o que não entendem e contra quem não pensa como eles. Essa gente que não se assume como gente, antes como animais humanos, como os mesmos animais só sabe urrar, reagindo por mero instinto, irreflectidamente como os animais e não em consequência daquilo que é apanágio da espécie humana, que são as funções de selecção e síntese ou seja, a inteligência! Essa sim, em vez de sons e actos instintivos, irreflectidos, produz idéias e actos inteligentes.
Eu não lhes ligo… também não lhes perdôo lá porque não sabem o que dizem, mas ignoro-os como aos cães que ladram de dentro dos quintais. A única coisa que podem fazer é isso mesmo, ladrar! E, fazem-no para nos perturbar, tentando aliviar assim a sua frustração de não mais conseguirem que de facto aborrecerem-nos! Não acabarão com a tauromaquia, nem nos farão mudar de idéias… e eles sabem-no! Daí a sua irritação, e tanto maior quanto menos conseguirem, ou seja, é um excelente indicador, a actividade e a raiva que manifestam contra nós! Porque resulta da impotência.
Ignorem-nos… eles hão-de concluir que até nisso falharam! 
Sempre houve gente como eles. Que só entendem aquilo que acham como a sua verdade. Que não conseguem nem querem perceber que há outras idéias, outras sensibilidades e maneiras de ver e de sentir, de pensar. Gente que nunca percebeu nem vai perceber que a diversidade das idéias é justamente a maior maravilha da Humanidade! Aquilo que faz do Mundo e da sociedade uma manta de retalhos fabulosa, de criação e diversidade, pelas diferenças que possibilitam haver lugares para todos e para tudo. Nós o sabemos, e por isso daremos exemplo de tolerância! Aceitando e respeitando que haja quem não aprecie, até não seja capaz de ver… 
Os “anti”, são gente de baixa moral, que só vê tudo pelo seu prisma e não entende nem aceita que outros existam, tendo por princípio que todos devem pensar, sentir e agir como eles, e só! Impõem-no e prevêem a destruição física de quem assim não seja, a proibição de tudo o que não seja deles e como eles… ao longo da história eles perpetraram os maiores crimes contra a humanidade, em nome desses seus ideais – tidos por únicos e derradeiros, superiores… 
Esta gente que anda por aí a apodar-nos e a insultar, estariam a assistir vociferantes e alegremente aos autos de fé no Rossio, alguns deles de bom grado sentados nas cadeiras dos inquisidores! Foram quem mandou tanta gente para os campos de concentração, fornos e câmaras de gás nazis, para os Gulag e internamentos soviéticos, quem levantou o muro de Berlim, construiu Guantánamo, tudo em nome dos seus elevados princípios superiores e dos seus ideais absolutos, mas apenas porque outros eram diferentes e pensavam diferente. Temiam-nos e tinham de os destruir.
É bom que nós aficcionados e os outros que não são mas respeitam, percebam isto, e quem é esta gente! Não me refiro a todos os não-aficcionados, pois repito que os há por simples questões culturais e de sensibilidade, como eu não gosto de lieder ou de pintura abstracta, dos filmes de Manoel de Oliveira… esses limitam-se a não gostar! O que de acordo com a minha maneira de ver é legítimo e enriquecedor, pois mau seria se todos gostássemos do mesmo e pensássemos como um só! Era o pensamento único…
Estes são a maioria, felizmente, ou o Mundo seria impossível de nele se viver… 
Os que mais se acirram, os “anti”, são os que se acham donos da verdade e pretendem impor o pensamento único (o deles!). Que usam de falaciosos argumentos, de meias-verdades hábilmente compostas, manipulam imagens, tudo no sentido de impressionar e chamar para a sua causa os que não gostam, os bem-intencionados. 
É preciso desmascarar e fazer entender aos que não gostam, que a finalidade dos anti-taurinos não é apenas acabar com a tauromaquia e sim impor a sua filosofia, formas de estar e de pensar! Quando um dia acordassem e já não houvesse touradas nem toiros de lide, caça, pesca, circo, criação de animais, consumo de carne na alimentação e vestuário ou outras, o Mundo seria o deles, e viver-se-ia e se pensaria como eles determinassem! Só se teria acesso ao que eles deixassem e entendessem de acordo com as suas idéias! As crianças educadas como eles mandassem… as artes, espectáculos, segundo os seus cânones e destruído tudo o resto como as estátuas de Buda, os livros e as pinturas queimadas pela inquisição ou os nazis, etc. 
Convém que se perceba! Que se desmascarem, e, que quem não aprecia touradas continue a não apreciar, pois isso será um excelente e saudável sinal de que as touradas continuam e que não se impôs o pensamento único!
Tudo afinal em nome do desconhecimento e da intolerância por ele gerada… porque os homens tendem a tomar os restantes por si mesmos. Como alguns são incapazes de perceber a tauromaquia, e nem sequer tentam fazê-lo para buscar o conhecimento e entendimento, limitam-se a avaliar segundo o seu limitado pensar, e a concluir erradamente pelas impressões distorcidas que colhem.
Quem de uma lide apenas veja e a reduza a cravar ferros num animal, que interpreta apressada e pouco avisadamente como sendo o que atrai a multidão, está ao mesmo nível de embrutecimento daquele que perante o quadro Guernica, de Picasso, apenas veja e o reduza a um monte de borrões e figuras distorcidas, incapaz de perceber por insensibilidade aquilo que traduz, ou de um modo mais simples, assistindo a um jogo de futebol, o reduza a um grupo de homens em calções a correr de um lado para o outro empurrando uma bola, caindo e levantando-se… 
Porém, se retirada a capa da incompreensão e do preconceito, analisarem toda a cultura e o culto que compõem a tauromaquia, indo mesmo às suas raízes que a determinaram mediterrânica e ibérica, não chinesa nem islandesa, mesmo não passando a gostar – o que repito é uma questão de sensibilidade pessoal – pelo menos cumprem o preceito humanista da busca do saber, pois só o conhecimento conduz à compreensão e esta à tolerância que permite aos homens viverem em sociedade e em paz… do contrário resultam as agressões e a guerra, afinal maioritáriamente causadas por essa incompreensão e intolerância, canalizadas pelo sentimento da agressão de que os nossos detractores (e não os aficcionados) dão tantas provas! 
Lembrem-se de que enquanto eu aficcionado apenas defendo o direito às minhas idéias, os anti-taurinos pretendem impor-nos as deles!
Aos que se julgam “anti”, aos indecisos, aos tolerantes e aficcionados, como forma de esclarecimento, aconselho a leitura de um pequeno mas esclarecedor livro do grande filósofo contemporâneo, espanhol, José Ortega y Gasset, “Da caça e dos touros”, quem reflectiu como homem e filósofo, numa questão profunda e tão característica da nossa cultura. Acreditem que será útil, e todos ganharemos com isso e com a pacificação, sobretudo os animais, afinal em nome de quem se erguem as espadas contra nós! 

Texto e foto da autoria de António Luiz Pacheco

15 de julho de 2012

Crónica de Miguel Sousa Tavares

“Prossigamos na destruição do património público do país. Já vendemos o idioma e o cimento aos brasileiros, a electricidade aos chineses, os combustíveis, parte da banca, do Douro e da comunicação social aos angolanos, vamos vender a TAP aos colombianos ou espanhóis, o espaço aéreo a quem se verá, as minas aos canadianos, a construção naval a quem quiser, e até a água (a agua, meus senhores!) está na agenda.
Mas até o pouco que resta, como património histórico, cultural, social e económico, está ameaçado — agora, não por excesso de liberalismo, mas por excesso de estupidez. Na semana que agora entra, o Bloco de Esquerda propõe-se fazer votar na Assembleia da República uma lei que, redigida de forma sibilina e cobarde, visa abrir caminho para a posterior proibição de touradas, circos com animais, caça e pesca desportiva. Para já, o projecto de lei diz pretender apenas “condicionar” o “apoio institucional ou a cedência de recursos públicos” à “não existência de actos que inflijam sofrimento físico ou psíquico, lesionem ou provoquem a morte do animal”.
Parece pouco, mas é imenso: “condiciona” (ou seja, proíbe) desde logo a cobertura televisiva da RTP às corridas de touros, as reportagens sobre caça ou pesca desportiva; proíbe a cedência de terrenos camarários para a instalação de circos com animais ou criação de zonas de caça ou de pesca municipais (a Câmara Municipal de Mora, por exemplo, já não poderá voltar a organizar o Campeonato do Mundo de Pesca Desportiva, onde os peixes da Ribeira do Raia, coitadinhos, às vezes moncos; a de Benavente não poderá ceder terrenos para as corridas de lebres com galgos, onde, embora não morrendo, o “sofrimento psíquico” das lebres é, infelizmente, bem presumível; a de Mértola, cuja principal fonte de receita turística é a caça, vai ter de cessar todos os seus apoios à actividade que ainda mantém o concelho vivo uns quatro meses por ano); e etc., não há limites para a imaginação persecutória dos “amigos dos animais”. Mas isto, como é evidente, é apenas um primeiro passo, ciclicamente ensaiado, e cujo fim é chegar à proibição, pura e simples, de tudo o que não entendem nem querem entender e que acham que lhes fica bem defender.
Vou, portanto, repetir também a minha cíclica resposta: este lado padreco, Bairro Alto e urbano-esquerdista do Bloco de Esquerda é intragável. A fatal companhia dessa anémona política chamada “Os Verdes” (sempre a oeste das ordens do PCP e a leste de tudo o que interessa na política de Ambiente), é enjoativa. E a inevitável participação do grupelho ‘fracturante’ do PS, estremecendo de emoção de cada vez que se fala de mulheres, gays ou animais, sendo estágio obrigatório de ascensão política lá na agremiação, é desprezível. Todos irão fatalmente votar a favor de um projecto de lei que é verdadeiramente fascista na sua essência, culturalmente ignorante e ditatorial, centralizador e arrogante. Já sei: vou ser uma vez mais esmagado nos vossos blogues e Facebooks (Twitters, perdão), onde, à falta de melhores causas ou de coragem para outras, a vossa grande liberdade é perseguir a liberdade alheia.
Mas, sabem que mais? Estou-me nas tintas para a vossa opinião. Tenho pena, apenas. Tenho pena de quem não entende a beleza de uma tourada ou o “silêncio poético e misterioso, um silêncio que estremece” do toureio de José Tomas (“El País”), de quem nunca cheirou a esteva e o orvalho de uma manhã de caça, de quem nunca perdeu horas sentado na margens de rio à espera que o peixe morda o anzol, de quem vai ao circo e não quer ver os leões do Paquito Cardinslli. Tenho pena, mas não posso fazer nada, que não isto: lutar para que não passem."
Expresso, 06/07/2012

7 de julho de 2012

Quem é bárbaro afinal

Leonel Moura, Senhor é uma condição que se adquire consequentemente não aplicável perante as suas afirmações e maneiras, terá outras habilitações ou títulos mas não este, sinto-me na obrigação de responder ao seu texto “Os bárbaros entre nós” porquanto naquele se permite argumentar em nome dos Caçadores, para além dos adjectivar a seu prazer.
Acontece que eu faço parte do grupo de pessoas que, legalmente, praticam essa actividade. A Caça está legislada e regulamentada e para a prática desta paga-se aos Estados onde se pratica, revertendo esta verba para os serviços da administração central, condição que se não verifica para a prática da escrita sobre o desconhecido, que Leonel Moura pratica graciosamente ou até (não sei, por isso não afirmo), sabe-se lá, mediante remuneração.
Do que se permitiu, independentemente das inexactidões e erros, opinar sobre as acções de S.A.R D. Juan Carlos, Rei de Espanha, não me cabe comentar, mas quando se permite afirmar “…A caça, toda ela, de coelhos a elefantes, é uma actividade sem qualquer justificação na sociedade contemporânea. É um crime praticado por gente incivilizada…”, aí já está a entrar no meu espaço e liberdade, classificando-me de criminoso. Acontece que não lho permito porque é falso!
Conforme acima indiquei a Caça é uma actividade legal. Assim, a sua liberdade de opinião acaba quando mente e mentindo atinge e viola (conscientemente) os direitos que, ainda que não concorde, aos caçadores assistem por condição e porque legais.
Da justificação para a existência da Caça na sociedade contemporânea, fique sabendo que a mesma (sociedade contemporânea) pode não se rever no formato e escolhas que Leonel Moura perfilha. Por incrível que lhe possa parecer, também os outros podem ter as suas concepções para essa sociedade, defendê-las e publicitá-las, mas não podem mentir e desinformar para a sua defesa ou estarão, então sim, a cometer o crime de difamação, entre outros.
Permite-se também nesse seu texto adjectivar S.A.R. de “…bárbaro,… primitivo, um delinquente…” que só não comento porque o colou à prática de chacinas de indefesas criaturas, assim sendo não se enquadra na prática da Caça e, portanto, não me merece o comentário ainda que duvide que tenha a capacidade de, em sede própria, fazer prova das suas afirmações, mas essa matéria, por agora, não me compete.
A classificação da caça, como actividade proscrita, ao nível da escravatura, do xenofobismo e racismo, dá uma boa imagem da sua própria concepção da tal “sociedade contemporânea”, onde, como se vê, as práticas dissonantes da sua opinião devem ser combatidas e banidas porque Leonel Moura as não compreende, bravo! Afinal quem é o bárbaro? Deixe-me aplaudir a sua “abertura de espirito”, ou será que o espirito aberto é “modal” e decorrente do interesse comercial e da sua própria promoção de imagem.
Ainda no mesmo parágrafo afirma que os praticantes da Caça “…têm os seus argumentos. Nâo são muitos, reduzem-se a dois….”, poderá Leonel Moura, em nome dos Caçadores, falar? reduzindo-nos a pobres de espirito sem capacidade de argumentação? Não! Leonel Moura mais uma vez crê-se detentor da informação mas erra, muito mais argumentos existem, o que acontece é que os desconhece, até porque não lhe interessará conhecê-los, a matéria “não vende”, o que vende é o ataque despudorado a um colectivo que, até agora, mais não reivindicou que o direito a exercer a sua actividade em sossego e longe das multidões, pagando, regular e sistematicamente, para poder fruir da sua actividade. Se calhar é hora de “chamarmos as vacas pelos nomes” e sairmos em defesa daquilo porque pugnamos, desde já com uma substancial diferença, sem ofender ninguém! 
Um argumento que Leonel Moura desconhece (ou omite) é que, de facto, comprovado cientificamente e com estudos vários a suportá-lo, muitas espécies não existiriam se não se caçasse e não apenas as que são objecto directo da Caça (ditas espécies cinegéticas), mas muitas que apenas controlando as que se caçam permite subsistirem.
Leonel Moura usou, habilmente diga-se, de alguns dados, pena omitir outros, por exemplo, um elefante custa 40.000 euros, segundo o próprio Leonel Moura, efectivamente custará, poderá até custar mais como também menos, mas será que Leonel Moura não saberá que destes 40.000 euros uma percentagem substancial vai, directamente, para as populações locais, bem como a carne dos animais abatidos (e não pensem que aquelas populações têm acesso a carne normalmente),não saberá que o turismo de Caça representa um dos maiores encaixes financeiros daqueles estados (maiores, por vezes, que o do turismo comum), que só o Botswana tem uma população estimada (com monotorização e estudo em que se envolvem as Organizações de Defesa da Natureza e Vida Selvagem) de 140 a 160 MIL elefantes e que apenas cerca de 400 são caçados (legalmente) por ano e estes segundo quotas definidas pelos organismos responsáveis em articulação directa com as Organizações de Defesa e Conservação da Natureza do País e Internacionais.
Será que Leonel Moura desconhece estes factos ou será que os omite voluntariamente, desinformando quem julga estar a ser informado, recolhendo para si os louros do defensor da natureza e sociedade que afinal só conhecerá parcialmente ou desconhece de todo, mas, garantidamente, não se pode permitir representar?
Não saberá que o próprio Quénia equaciona o retomar da prática da caça (exactamente, o Quénia, o primeiro a aboli-la) pois apenas a atribuição directa de um valor aos animais, revertendo total ou parcialmente para as populações locais, permite a conservação das mesmas espécies? Sem este, o seu valor para a população é nulo, tornando-se permeáveis, estimulando até o comércio ilegal e o furtivismo, estes sim crimes. É este valor/espécimen que a Caça permite às populações incutindo nestas a vontade de defesa de um património que, assim, também lhes pertence e que compreendem.
Não saberia também que a destruição do habitat causada pelo excesso de população de elefantes (as causas humanas independentes da Caça, têm também efeitos na Natureza e habitats, a sobrepopulação humana, o desenvolvimento agrícola, a protecção de uma determinada espécie em deterimento de outras, são disso exemplo) está a pôr em causa a sobrevivência de outras espécies, quer animais quer vegetais, nomeadamente no Botswana. 
A visão antropomórfica de algumas espécies, selvagens ou domésticas, leva, em muitos casos, a uma visão deformada e que pode fazer perigar umas espécies em detrimento de outras que são menos apelativas para a generalidade dos humanos. O ursinho “Teddy”, dos contos para criança, transforma-se num monstro quando entra pela nossa própria casa e mata alguém, isto acontece Leonel Moura, então recorrem aos “ignaros e bárbaros” caçadores para o deter, acontece que, se estes puderem manter as populações estabilizadas e o medo dos humanos prevalecer, se evitam estes acidentes em grande número. O desconhecimento destes factos não pode permitir no entanto, que apelidemos aqueles que lhes são alheios de “ignaros”, como alguns tendem a fazer sempre que as escolhas daqueles diferem das suas próprias escolhas.
Quantas vezes Leonel Moura alimentou a fauna selvagem em tempo de escassez? Será que pelo menos conhece a dinâmica das populações de elefantes ou de outras espécies, ou conhece mesmo as próprias espécies, suas deslocações e impacto sobre os habitats? Ou apenas aproveitou um episódio que, porque Real, veio para os meios de comunicação, dando-lhe assim a oportunidade de brilhar? Poderia tê-lo feito sem acusar mais ninguém mas não resistiu à oportunidade de criminalizar a Caça no geral, fez mal, errou, retrate-se ou explique-me porque sou um criminoso, ensine-me e informe-me sobre o campo onde sempre e para quem vivo! Porque será que os que mais distantes estão dela são quem mais comenta sobre a ruralidade? Porque será que querem vir para o campo mas não resistem a querer alterar a sua forma (a mesma que permitiu e permite que ele seja como é e que tanto os atrai), não será arrogância? Será só mesmo ignorância? 
Num ponto concordo com Leonel Moura, concordo quando diz “…O topo da nossa sociedade está repleta de bárbaros. …”, os que têm acesso regular aos média são disso exemplo Leonel Moura ou supõe que todos têm o direito de opinião nos média? Recordo-vos que a Santa Inquisição também se supunha com a razão e também preconizava uma sociedade melhor, lamentavelmente os que foram queimados, por hereges, não podem ser recuperados em acto de contrição.

Leonel Moura usou da disponibilidade que o Jornal de negócios lhe faculta para, teoricamente, ao abrigo do percalço de S.A.R. denegrir, insultar e criminalizar uma actividade e todos os seus praticantes. Espero, sinceramente, que agora o mesmo órgão de informação, permita a este colectivo, que não represento mas no qual me incluo, use do direito de resposta que creio assiste a quem é acusado em espaço público.

Póvoa da Isenta, 26 de Abril de 2012

Paulo Farinha Pereira

Texto e foto da autoria de Paulo Farinha Pereira

6 de julho de 2012

Vale a pena ser Caçador

O amigo e Presidente da CNCP Vítor Palmilha desafiou-me a escrever umas palavras nesta notável publicação, que se insere no prestigiante evento que é a XVII Edição da  Feira de Caça, Pesca e do Mundo Rural do Algarve, que muito valoriza esta Região em particular e o Mundo da Caça em geral, pelo que não pude recusar e aqui estou.

Conto 59 anos de uma vida activa e bem preenchida, dos quais passei 53 anos a viver intensamente uma paixão e um acto de cultura que é a caça.

Aos que tiverem paciência para ler estas minhas linhas, principalmente aos mais novos e em jeito de balanço digo-lhes que  continua a valer a pena ser Caçador.
Pratiquei andebol, joguei futebol, fui aluno do quadro de honra de Económicas, na Universidade Técnica de Lisboa, docente de duas universidades a sério, responsável máximo da pasta das Finanças do Governo dos Açores, ajudei a criar  e ainda sou o responsável número um de uma Instituição de Crédito que dignifica o nome que ostenta.
Privei com muita gente, desde a mais humilde à mais distinta e se tivesse que nomear as três palavras que estiveram sempre presentes  na minha vida indicaria a ética, o trabalho e a caça.
Nunca tive vergonha de afirmar, em nenhuma situação e em nenhum lugar, que era Caçador, muito antes pelo contrário.  
Numa fase bastante amarga da nossa vida individual e colectiva, como a que vivemos actualmente e que é por todos conhecida, com uma lei das armas desajustada a afastar cada vez mais caçadores, com o associativismo a passar por enormes dificuldades,  com as pessoas a agredirem-se  mutuamente ao invés de se aproximarem e de se unirem, com uma presença cada vez mais forte e não menos fanática dos movimentos anti-caça, entre tantos outros aspectos negativos, tudo isto contribui decisivamente para afastar da caça os mais jovens, os mais antigos e muitos  dos praticantes que até há pouco tempo eram bastante activos.
 Apesar de tudo isto, destes fortes constrangimentos à prática cinegética, reafirmo que vale a pena ser Caçador, porque mesmo que tenhamos de fazer sacrifícios, continua sempre a valer a pena!
Para comprar a minha primeira espingarda de caça,  uma Baikal, de um cano, na altura por 10 mil escudos,  deixei pura e simplesmente de fumar e acreditem que na altura custou-me bastante fazê-lo. Ainda hoje continuo a preferir a caça e quando tenho de optar entre a caça e outra coisa qualquer, por muito duro que se torne, escolho sempre a caça.
Ainda recentemente  custou-me imenso ter  de denunciar ao Senhor Provedor de Justiça o comportamento da Secretaria Regional da Agricultura dos  Açores, mais concretamente da Direcção Regional dos Recursos Florestais, entidade que tutela a caça na Região Autónoma dos Açores,  por obrigarem os Caçadores Açorianos e residentes nestas ilhas, titulares de carta de caçador nacional e de licença de caça nacional, a terem de  tirar uma licença de caça de Ilha (8 licenças para 8 Ilhas, já que no Corvo não se caça) com o argumento de que o produto  financeiro proveniente das licenças nacionais  ficava para o Orçamento de Estado e não para o Orçamento Regional.
Ora, tendo sido eu um dos autores da proposta da primeira Lei de Finanças das Regiões Autónomas, sei perfeitamente que este argumento não tem fundamento nenhum e que pode facilmente ser ultrapassado e ainda argumentam que um caçador Açoriano, com uma carta de caçador regional, não pode caçar no Continente!
Estamos pois perante um grave atropelo e quem o diz é quem, sem falsas modéstias o afirmo, já deu muito de si, da sua energia e do seu trabalho aos Açores. Poderia ter optado pelo silêncio, que neste caso seria bem mais cómodo, mas a defesa da caça obriga-nos a tomar uma posição clara quando se torna necessário e impõe-nos sérios deveres, um dos quais o combate às injustiças.
Sinto possuir esta obrigação, já que devo à caça parte da minha saúde e da minha alegria. Na caça fiz amigos extraordinários, conheci lugares e Países que nunca previ lá chegar que não fosse doutro modo. Provei sabores e gastronomia cinegética de excelência, sendo que alguns dos pratos confeccionados e a matéria-prima utilizada só se consegue mesmo sendo caçador.
Na caça desenvolvi e apurei o espírito de equipa e de liderança que me ajudaram a ser o homem que sou.
Finalmente por ter tido a honra de partilhar momentos únicos com os meus cães de caça, podengos e perdigueiros que tudo fizeram e fazem para me agradar e tornar num Caçador completo. Ainda hoje, nestes tempos conturbados que vivemos e fora do período da caça, poder usufruir da companhia dos meus cães de caça, nem que seja uma hora por dia, para além de ser um privilégio é um suplemento vitamínico extraordinário para me ajudar a enfrentar os desafios da vida e só por isto já vale a pena ser Caçador!
Com a idade a avançar, comecei a valorizar ainda mais a componente social da caça, a descobrir o desportivismo que a mesma encerra, a desfrutar da natureza e a preocupar-me com o meio ambiente e a sua sustentabilidade. Valorizo mais a qualidade do lance em detrimento da quantidade dos abates, outrora bem mais aliciantes.
Um coelho bravo bem trabalhado pelos meus podengos ou uma galinhola bem amarrada por uma das minhas Setters ou por um dos meus Bretões não tem preço e vale a pena todos os sacrifícios. Aquele que me ler, sendo caçador, decerto que me compreenderá.
Por tudo isto reafirmo a necessidade de nos unirmos em torno dos valores que estimamos e que nos são comuns, de nos empenharmos na defesa da caça e a darmos o nosso válido contributo para o seu desenvolvimento, porque continua valer a pena ser Caçador, mesmo nos dias que correm.

Gualter Furtado

Presidente em exercício da Assembleia Geral da Federação dos Caçadores dos Açores  e Presidente da Assembleia Geral da Associação Nacional de Caçadores de Galinholas

Texto e foto da autoria de Gualter Furtado

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