11 de novembro de 2006

Alterar o Calendário

Uma das medidas a serem concretizadas com urgência é a alteração do período de caça ao coelho.

Actualmente a época começa nos inícios de Outubro e finda no último domingo de Dezembro, cujo calendário original foi idealizado num tempo, já distante, quando o coelho era ainda considerado como uma praga.

Os agricultores poderão não compreender esta lógica, pois argumentam que o coelho lhes faz prejuízo. A situação seria oposta se houvesse, da parte deles, a sapiência de criar as condições para se poderem efectuar as batidas antes do começo das culturas e não quando estas já se encontram em curso e a brotar do solo.

Na suposta razão do calendário existente parece haver o propósito de capturar o máximo de peças possíveis e impedir a sua reprodução, pois de Setembro a Dezembro trata-se de uma época importante para o desenvolvimento da espécie.
É um documento idealizado para permitir o exterminio do o maior número possível de coelhos e impedir a sua reprodução, pois identifica o coelho como uma praga.

Em Santa Maria o coelho não é uma praga, nem assim deve ser determinado. É sim uma espécie cinegética e como tal, necessita de ser racionalmente gerida, pelo que urge ajustar o calendário à luz dessa realidade e agir correctamente.

9 de novembro de 2006

Sem Eira Nem Beira

O ordenamento do território cinegético mariense é uma necessidade, que advém do abandono e do estado lastimável a que estão votados os recursos cinegéticos actualmente.

O ambiente é de desordenamento e de destruição gratuita.

A tarefa não é fácil, mas cabe à associação de caçadores realiza-la em associação com os Serviços Florestais, Câmara Municipal de Vila do Porto, Juntas de Freguesias da ilha e Câmara do Comércio de Ponta Delgada, pelo que é necessário sensibilizar estas entidades para a importância da caça como factor de desenvovimento económico.

Se nada for concretizado e se tudo continuar na mesma pasmaceira -sem eira nem beira -, ficaremos ainda mais pobres.

Coelho Bravo - Reprodução

O macho pode ter várias fêmeas que têm a capacidade de reproduzir em qualquer altura do ano, caso ocorram condições favoráveis de clima e alimentação. Também delimita o território da colónia e é o responsável por expulsar os intrusos.

O início da actividade reprodutiva é regulado pela rebentação da vegetação anual nos fins de Outono e determinada pela disponibilidade de alimento. De igual modo as alterações de temperatura e de precipitação regulam o final desse comportamento.
Poderá atingir números elevados de 10 em 10 anos, em função do ciclo de tempestades solares, que condicionam o desenvolvimento da vegetação na Terra.

As tocas para os partos, normalmente situadas próximas da colónia, chamam-se Luras e encontram-se a uma profundidade de 50cm a 1m. São construídas dias antes dos nascimentos, cuja preparação é da responsabilidade das fêmeas que cobrem o fundo com folhas secas, pêlos, que arrancam do seu próprio ventre, e musgo, deixando o solo donde o retira a descoberto e marcado pelas unhas. Estes sinais devem ser entendidos pelo caçador como uma informação de que devem mudar de local de caça.

As crias, denominadas por Láparos, permanecem na lura 19 a 21 dias. Findo este período passam-se paras as tocas da colónia. Seis meses após o nascimento tornam-se adultos.

Em média as fêmeas realizam 3 a 5 partos por ano e a ninhada pode ser constítuida por 1 a 5 láparos, que nascem cegos, surdos e sem pêlo, com cerca de 60grs cada.
Num ano normal, cada fêmea poderá gerar 15 a 20 láparos.

O coelho é um animal muito sensível ao frio e à chuva, que quando cai em abundância e inunda as tocas, acaba por provocar amorte a muitas crias.

6 de novembro de 2006

Debater e Gerir

Em Santa Maria a preservação, bem como o desenvolvimento da sua fauna cinegética, passa necessáriamente pela participação activa dos caçadores, mas também da restante sociedade, a fim de se criarem e desenvolverem projectos, colocarem-se em prática medidas de gestão deste importante recurso natural que é a caça.

Infelizmente ainda não se compreendeu este facto importante, devido a desatenção, desconhecimento ou outra causa qualquer, mas a verdade é que Santa Maria poderia proporcionar excelentes condições para o desenvolvimento da caça como factor dinamizador da economia mariense.

É imprescindivel debater esta questão, porque nunca a preservação, nem a diversidade da fauna cinegética foi um tema tão necessário, nem actual para a viabilidade da actividade cinegética e do futuro de Santa Maria.

2 de novembro de 2006

O Coelho Bravo - Caracterização

Ao longo de alguns posts, sendo este o primeiro, irei caracterizar o coelho bravo, falar sobre os seus hábitos, a reprodução, localiza-lo nesta ilha e sua caça.

A origem deste mamifero, segundo alguns autores, situa-se no sudoeste da Peninsula Ibérica, vindo depois a dispersar-se pelo mundo, sendo introduzido na ilha durante o séc.XV pelas mãos dos descobridores e povoadores que o trouxeram do centro e sul do país.

O nome científico que identifica o coelho bravo é Oryctolagus Cuniculus, possui o pêlo de cor pardo acizentada terrosa, à excepção do ventre e da parte externa das coxas, que são brancas.
As orelhas medem entre 6,5 a 7,5 cm, sendo acizentadas na metate posterior, enquanto os pêlos do bordo anterior são esbranquiçados.
À volta dos olhos apresenta um círculo claro mal definido. Os bigodes são castanhos e pouco compridos.
A cauda é cinzento acastanhada na parte de cima e branca por baixo, formando um pequno tufo cm 4 a 6 cm.
As patas posteriores são alongadas, que podem medir de 8 a 9cm, de cor parda acizentadas, apresentando uma risca branca clara.
As unhas são grandes e afiadas, constituindo uma ferramenta importante para ajuda-lo na escavação de tocas e na fuga.
O coelho bravo adulto, muito mais pequeno que o coelho doméstico, pesa, em média, 1kg a 1,2kg.
As fêmeas tendem a apresentar-se mais compridas e pesadas do que os machos.

1 de novembro de 2006

Tradição à Deriva

Escrevo sobre a ilha de Santa Maria, donde a caça soltou amarras e navega sem rumo, ao sabor da indiferença dos ventos e das marés.

Na terra mais oriental do arquipélago açoriano, o acto de caçar surge com a chegada dos primeiros povoadores, verificada no início do séc.XV, depois de terem sido largadas, nos anos anteriores, diversas espécies animais com o propósito de proporcionarem alimento e condições de subsistência aos recém-chegados até que brotassem os primeiros frutos.

Inicialmente a utilização do pau era uma prática comum e generalizada, principalmente na caça ao coelho. Certamente a que proporcionaria mais jornadas, também realizada com a ajuda de cães, furões, ou com os dois.
O caçador deslocava-se munido de um bordão, geralmente de pau branco, madeira leve e resistente, ao qual, mais tarde, uniu uma foice, fabricada na forja, de menores dimensões e mais ligeira do que as que utilizava no trabalho campestre, para desatravancar caminho, introduzir nas fendas, levantar a presa ou sitiá-la, de modo a tornar possível a aproximação e, com uma pancada certeira, executar o cobro com sucesso.

Já não existem ferreiros que se dediquem, por inteiro, à laboração, pelo que as foices de Santa Maria dificilmente poderão ser adquiridas novas.

Os cães, devido ao isolamento e especificidade insular, acabaram por desenvolver características notáveis e de grande paixão por este tipo de caça.

Aquele mais afortunado fruía igualmente de furão. Eram utilizadas preferêncialmente as fêmeas por serem de menores dimensões e mais facilmente adestráveis. A sonoridade do guizo, que lhes era pendurado ao pescoço para facilitar a sua localização, motivava acaloradas discussões nos centros de reunião.
Eram transportados no aljabre, pequeno contentor, de forma cilíndrica, construídos em madeira, couro ou varas de vimeiro, por vezes artistícamente trabalhados.
Numa das extremidades era a porta, enquanto a outra permanecia vedada com a excepção de um pequeno orifício para o escoamento da urina do animal.

Somente em meados do século transacto se verificaram profundas alterações no modo de vida e consequente caçar ilhéu.
Para não comprometer a neutralidade portuguesa durante a II Guerra Mundial foi arquitectado um acordo entre Portugal e a companhia aérea norte americana Pan American, para a construção de um aeródromo que permitisse aos E.U.A. alcançar o mediterrâneo e Santa Maria, por acréscimo, vislumbrar o Séc. XX.
O choque cultural foi violento para esta comunidade. Ainda hoje persistem no vocabulário local palavras como “friza”, proveniente do inglês = freezer, que designa arca frigorífica, entre outras.

Na caça os efeitos não foram menores. Vulgarirou-se o uso da arma de fogo devido a trocas nem sempre idóneas e legais entre os trabalhadores e os militares. Aos poucos foram deixadas ao abandono tradições centenárias e desprezados os conhecimentos que as sustentavam. Os campos deixaram de ser cultivados, contribuindo a par da caça intensiva e do furtivismo para o desaparecimento total da perdiz vermelha nos anos oitenta e para a regressão populacional contínua das codornizes e dos pombos torcazes.

Urge debater, definir e aperfeiçoar medidas e acções que proporcionem a reorganização da actividade venatória e o ordenamento do património cinegético, sensibilizar as entidades políticas, económicas e científicas regionais para a caça como factor de diversificação de rendimentos e de desenvolvimento local, harmonizar os interesses dos caçadores com os demais cidadãos, levar a efeito acções de preservação, de desenvolvimento da fauna e da sua biodiversidade. Já não se justificam medidas, como a da ilha do Pico que permite caçar o coelho com auxílio de candeio e sem limite de peças até 2008 nas áreas de vinha, milho e produtos hortícolas. Porque razão não se optou pela deslocação dessas populações por biólogos da Universidade dos Açores, em parceria com os caçadores e os agricultores para locais onde a sua presença é deficitária?

Santa Maria é um exemplo real onde a pressão sobre a fauna cinegética supera todas as medidas no sentido de tornar a caça o elemento de gestão, conservação, estabelecimento da biodiversidade e desenvolvimento que deve ser.

É num misto de ansiedade e preocupação que aguardo os novos tempos.
Se a realidade se mantiver e nada for alterado no actual panorama cinegético, a curto prazo acabaremos por perder um importante recurso natural, uma porção significativa da nossa identidade cultural que nos identifica e distingue.

Texto publicado na revista "Caça & Cães de Caça" e no jornal mensal "O Baluarte"

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